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novembro 21, 2008

Catástrofe a 21/11/2008

Como se comenta de quando em vez na comunicação social, nós cá por Lisboa já estamos a dever uns anos ao sismo da mesma magnitude do de 1755, que devia ter-se repetido 200 anos depois.

Caros macacos, deixem que esclareça mais um mito urbano – não há maior disparate do que dizer que já estamos a dever uns anos ao sismo de 1755 e que este se devia ter repetido 200 anos depois! Passo a explicar:
Este tipo de fenómenos associados a “causas naturais” são modelados por aproximações estatísticas, pois a sua complexidade não nos permite – por enquanto – modelá-los de uma forma mais directa, por exemplo através de fórmulas, como fazemos com outros fenómenos físicos mais simples.

Os fenómenos modelados estatisticamente associados a baixas probabilidades de ocorrência, tais como as catástrofes naturais felizmente, são denominados “fenómenos extremos”.
E, de uma maneira simplista, pode dizer-se que para cada fenómeno, associada a cada magnitude existe uma probabilidade de ocorrência.

Exemplo: se tivermos em conta um terramoto idêntico ao de 1755 (com 6.5 de magnitude na escala de Richter), a probabilidade deste fenómeno acontecer é tão baixa que, de acordo com os macacos espertos que estudam estas coisas, ele acontece em média, uma vez em cada 200 anos.

O busílis da questão está precisamente aqui – na “média”. É que a natureza faltou às aulas de estatística, e não está portanto a par do conceito de “média”. Consequentemente, não há terramoto para ninguém de 200 em 200 anos. Até há quem pense – eu inclusive – que a probabilidade de termos um terramoto desta magnitude no dia de hoje é tão grande como era no dia imediatamente a seguir ao de 1755.

Como se explica esta questão? Bem, simplificando mais um pouco, digamos que se contássemos as vezes que um terramoto ocorreu nestas condições em particular, desde o princípio até ao fim do universo, e dividíssemos pelo número de anos entre o princípio e o fim do universo, o resultado talvez fosse parecido com 200 anos! Talvez…

Como me parece absolutamente óbvio, este tipo de aferências estatísticas são, do ponto de vista da racionalidade, frágeis, e não devem ser encaradas como verdades absolutas. São apenas números e estimativas, valem o que valem – o que não é mau de todo, se pensarmos bem na coisa.

Faça-se o seguinte exercício de raciocínio em relação à média: comparemos duas aldeias em África, cada uma com 50 macacos.

Na aldeia “A”, todos os macacos pertencem à classe média – comunas, portanto – e cada um come exactamente 3 bananas por dia, num total de 150 bananas por dia. Conclusão, é legítimo afirmar que, em média, temos uma alimentação diária de 3 bananas por macaco na aldeia “A”. Ou seja, não há fartura, mas fome também não.

Mais a Sul temos a aldeia “B”. Tratando-se de uma aldeia capitalista, dos 50 macacos existe um grupo de 10 que come 15 bananas por dia. Os restantes não comem nenhuma, consequentemente. Neste caso é também legítimo afirmar que em média temos uma alimentação diária de 3 bananas por macaco na aldeia “B”. Mas 40 macacos parecem a Kate Moss e os restantes 10, lutadores de sumo.

Portanto, macacos e macacas, a média pode ser muito traiçoeira se não tivermos cuidado com ela, e vale o que vale. Esta história dos 200 anos é apenas mais uma tentativa de se explicar o inexplicável, pois nós temos um medo que nos pelamos do que não compreendemos, e, na realidade, compreendemos tão pouco…

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