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abril 20, 2007

CANTICORUM JUBILO REGI MAGNO PSALITE

Imagine-se a seguinte situação:

Um grupo de pessoas absolutamente aleatório, sem qualquer característica específica ou comum entre si, à excepção da partilha de um determinado espaço num determinado momento. Daqui decorre que não são particularmente dotados em qualquer espécie de tarefa ou ofício, são o que se denomina por “gente”, medianos e medianas em todos os aspectos, mais especificamente no que concerne aos seus dotes vocais.

Eu, pessoalmente, reconheço que estou nitidamente abaixo da média. Sou o que se chama de penetra do karaoke: quando a malta está no karaoke, eu vou por trás, assim de mansinho, e começo por fazer playback, depois só “mmmmmm” e por fim começo a cantar, até ser escorraçado pelos restantes karaokers, para aí 30 segundos depois. E nem sequer canto alto.

Qual não é o meu espanto, quando no meio dum concerto de música medieval, o maestro do coro desafia a audiência para cantar também! Ah que giro e tal…Que giro e tal uma porra! Se eu gostasse de me ouvir cantar, tinha ficado em casa a aproveitar a acústica da minha casa-de-banho.

Mas enfim, estas coisas têm piada se se interiorizar devidamente o espírito. Olhei à minha volta e pensei “Há-de haver alguém pior do que eu, somos tantos!”

E lá fomos, seguindo as instruções do maestro, cantando um refrão em latim projectado no palco, lado-a-lado, ombro-a-ombro, nota-a-nota com o dito coro…E a coisa não correu nada mal, aquilo até soou mesmo a música. Dadas a experiência anterior, se bem que bem regada, senti-me um autêntico Freddie Mercury. Mas muito másculo e viril, claro.

Ora, findo o dito concerto estava em êxtase com a minha prestação. “Afinal não canto assim tão mal”, pensei. Este êxtase durou uns dias, foi-se degradando progressivamente pela eterna dúvida “Será que foi mesmo assim, será que soei mesmo bem, afinadito…ou pelo menos não suficientemente desafinado para provocar alergias, comichões e pelos arrepiados na nuca?”.

Por último lá consegui racionalizar a questão e cheguei ao seguinte: não interessa se soei bem ou mal, mas sim que soámos bem. É muito bom sentir que fazemos parte de algo, que estamos em harmonia, integrados.

E isto deu-se graças ao dito maestro, que durante aqueles minutos que passaram em câmara lenta transformou uma cambada de analfabetos líricos em Pavarottis. Aquele senhor funcionou como a “cola” daquele grupo tão heterogéneo quanto improvável, conseguindo que cada se excedesse e que a soma das parcelas fosse superior ao valor individual de cada parcela. Assim tipo Mourinho, mas do canto em vez da bola.

Imagine-se pois. Doutra forma só mesmo lá estando…