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maio 25, 2007

OBSERVAÇÃO SOBRE A CULTURA AUTOMÓVEL POPULAR PORTUGUESA

O conta-quilómetros

Tempos houve em que comparávamos os carros entre si, referindo-nos (erroneamente) ao seu “conta-quilómetros”. Dizíamos “Epá, este marca 120!”. Tratava-se, com certeza, de uma grande máquina, para aí um Renault 4L, ou Fiat 127.

Estou a falar de uma altura em que cada marca de automóveis tinha o seu próprio design, perfeitamente distinto de qualquer uma das outras. E cada dono orgulhava-se do seu bólido, como se este tivesse alma, personalidade e fosse único no universo.

Os automóveis eram embelezados com uma série de apêndices de gosto duvidoso – antenas de rádio com 2 metros de altura, autocolantes da marca Alpine, penduricalhos no espelho retrovisor, almofadas e animais de peluche na chapeleira, ponteiras de escape cromadas, ailerons colados à base de Super Cola 3, ferraduras penduradas na frente do carro, capas para os bancos em tecido com padrão tipo “toalha de mesa” e o meu preferido, uma inscrição na porta do condutor com as iniciais deste e o seu tipo de sangue.

Mas o “conta-quilómetros” era o que contava, the real deal. Aquele número mágico ditava a diferença entre o voar baixinho e ficar cá de baixo a ver os outros levantar voo. E estamos a falar de uma altura em que não era obrigatório o uso de cinto de segurança, os carros não tinham ABS nem airbag e as estradas faziam lembrar o Paris-Dakar.
E não era preciso chegar lá com o ponteiro, o que cotava era o que lá estava escrito. Atingir ou não essa velocidade era apenas uma questão de pormenor.

Actualmente reinam os veículos capazes de perfomances muito superiores às da época, todos muito mais seguros e confortáveis e ergonómicos, todos arredondados, todos feitos em plástico, todos dotados do mesmo número no “conta-quilómetros”, até irrita.

Já ninguém diz quanto é que marca o “conta-quilómetros” da sua máquina porque se tornou absolutamente irrelevante. O dito “conta-quilómetros” já perdeu todo o seu significado, aquela aura que tinha dantes, tipo crista do galo, e com ele perdeu-se também o prazer que era “ter um carro”, mesmo que este avariasse, metesse água, não pegasse ou gastasse muita gasolina. Não interessava, o dono do veículo era incapaz de ver os seus defeitos por mais óbvios que estes fossem, apenas via as qualidades – tal e qual um filho aos olhos dos seus pais.

Tudo isto se perdeu. Até o dito do “conta-quilómetros”. Parece que agora se chama velocímetro…e até os há digitais…

A propósito de coisas grátis

Nas palavras de uma conhecida filósofa contemporânea, a propósito da adesão do povo português às coisas grátis:

“Grátis, até injecções no olho!”

Chiça!

maio 04, 2007

TÚNEL DO MARQUÊS

Em relação à mais propalada obra pública dos últimos 5 anos, sem contar com o novo Aeroporto da Ota…não, de Rio Frio…, não… sei lá, o que for, eu imaginava que o Túnel do Marquês fosse uma espécie de apocalipse do tráfego automóvel, assim ao estilo de Mad Max, com carros a capotar em pleno túnel, pessoas a gritar e a espichar aquelas paredes em azulejo moderno com sangue, membros decepados, urros de dor e sofrimento, intoxicações por inalação de gases de combustão, seitas religiosas a oferecer a salvação divina, enfim, já dá para perceber a ideia.

Epá, mas não. Nada de especial. Pacífico. Entrei no túnel, atravessei desde a Rotunda do Marquês do Pombal até às Amoreiras, sempre na mais perfeita das normalidades. Nada de sangue, chapa amachucada, derrapagens, falta de visibilidade. Nada disso. Nem sequer me pareceu que fosse demasiado inclinado – tem sensivelmente a mesma inclinação da respectiva avenida à superfície. Lembrei-me até de alguns túneis na Madeira bem piores, já com 3 e 4 anos de existência.

Ainda por cima parece que o dito aliviou mesmo o tráfego automóvel na área circundante da Rotunda do Marquês do Pombal – os meus colegas que vêm de carro para o escritório já o confirmaram.

Deve andar por aí muita azia.

Nota: Vamos fazer um “suponhamos” – pondo esta questão em perspectiva, imagine-se a quantidade de barbaridades que irão surgir no caso do novo aeroporto. É assustador. Isso e os custos acrescidos em atrasos e derrapagens, por causa de uns engitilentes (em honra ao grande Zé Manel, esse proeminente filósofo contemporâneo) que aparecem sempre com soluções excelentes.
No fim estas soluções acabam por não dar em nada, mas quem paga os anos de atraso na conclusão das obras?
Como disse recentemente o Rei da Madeira – No dia em que tivermos uma oposição competente, vamos governar muito melhor. Neste momento são uns rascas.