MAIORES DE 6 ANOS

Eu gosto de animais. São, na sua maioria, castiços e fazem-nos companhia a tal ponto que só quando já não estão lá é que nos apercebemos do vazio no nosso dia-a-dia que preenchiam, assim tipo aqueles parentes velhotes que já faleceram cuja falta se faz notar em pequenos pormenores tipo castanhas assadas descascadas e rebuçados Doutor Bayer.
Posto isto, é perfeitamente natural que me choque um pouco certos componentes dum espectáculo tauromáquico. Eu até acho alguma piada aos forcados e aos toureiros, mas detesto a parte de cravar os ferros nos touros. Mas, como qualquer macaco respeitador da liberdade dos outros, e um pouco levado pelo único argumento que considero minimamente válido, o da tradição e identidade cultural, não me insurjo contra as touradas.
Qual não é o meu espanto quando vejo num dos cartazes colados na rua a publicitar um evento tauromáquico qualquer na Praça de Touros do Campo Pequeno que o espectáculo estava classificado para maiores de 6 anos. Maiores de 6 anos! Devem ter-se esquecido dum algarismo qualquer antes do 6, nem sei…Já estou a imaginar o filho, impressionadíssimo com a imagem do cavaleiro a cravar um daqueles ferros coloridos no dorso do touro, a perguntar ao papá: “Papá, tadinho do boi.”, e o pai a rir em tom inchado e bacoco de charuto na mão a olhar para os amigos vestidos com as mesmas marcas de roupa até aos sapatos.”Tá a ver Mito, as coisas que o seu filho aprende naquele colégio horrível?”, ao que a mãe responde prontamente:”Ó Tomás, aquilo não dói nada, tá a ver? Que chatice, porte-se bem e deixe a sua mãe e o seu pai ver o espectáculo em paz. Sossegue!”. Meus ricos desenhos animados do Dragonball…