Directamente de Setúbal, no seguimento do funeral de um jovem, dois bonitos ícones da cultura xunga nacional: a beatificação a título póstumo e o cortejo fúnebre “à lá quartier” – ou à moda do bairro, como queiram.
Das cenas “à lá quartier” falaremos noutro dia. Acreditem, há muita coisa para falar.
Quanto à beatificação a título póstumo (BTP), que é aquele processo que se dá quando as pessoas morrem são imediatamente beatificadas. De repente, todo o mal que fizeram durante a vida não tem importância absolutamente nenhuma, é mais ou menos isto:
“O Cajó foi um bom homem, um pai extremoso, marido dedicado, o melhor dos companheiros, particularmente nestes últimos dez anos que passou na prisão a cumprir pena por violação de menores e homicídio qualificado da amante de quem tinha uma menina. O mundo ficou mais pobre com a sua partida…Era um santo.”
Não interessa o que fez ou deixou de fazer. Morreu, logo foi um santo.
“É um exemplo para todos. Meu deus, como a vida é injusta, um tipo já não pode prejudicar os outros à vontade sem se arriscar a levar um tiro. Como é que é suposto um gajo ganhar a vida? O subsídio de desemprego mal dá para pagar o tabaco, a TV cabo, a internet, a prestação do carro e as férias em Palma de Maiorca. Não há direito! A culpa disto tudo é do governo, esses bandidos…”
Enfim é inacreditável. A sensação de ouvir isto da boca de um bípede é impagável, é surrealismo moderno em ponto de caramelo.
E logo de Setúbal, onde há tanta coisa tão boa e tão nacional: o choco, as praias, a serra, o Mourinho…
Fui.
maio 08, 2009
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