A Greve
Os dias de greve são dias de festa. E de festança da grossa, tipo loucura generalizada por toda a selva com tudo de pernas-para-o-ar, com ruído, fumo, luzes, porrada e menção honrosa em todos os media. Foi neste ambiente de pura folia desenfreada que me pus a caminho do trabalho na passada terça-feira, dia de greve no Metropolitano de Lisboa. E já se sabe o que esperar, desde filas intermináveis cujo trajecto desafia qualquer principio da lógica, trânsito infernal, os já habituais comentários “Mais valia ter ficado em casa!” ou “Isto no meu tempo não era nada assim!”, até à chegada ao emprego quase à hora do almoço.
Mas tiro o meu chapéu (se tal coisa tivesse) às cabeças do sindicato que organizaram a greve, é que organizar uma greve dá trabalho que se farta, para além de não ser tão simples como isso. É imperativo fazer tudo de modo a que os afectados pela paralisação dos serviços se coloquem do lado dos grevistas, o que me parece uma tarefa dificílima. Como é que se convence um bando de macacos enraivecidos prontos a partir para a violência, que se levantam dia após dia ainda de noite, para se deslocarem para um emprego miseravelmente remunerado a 2 horas de distância, que a duplicação do seu tempo gasto nos transportes públicos, num clima de stresse, sovaco e chulé, é para o seu próprio bem? Mais ainda, pagam o seu passe todos os meses! É que não é para qualquer um.
Após cuidada e demorada reflexão (pudera, 2 horas para fazer 10 quilómetros de autocarro dá para muita coisa), cheguei à conclusão que o golpe de asa está na correcta manipulação do pequeno duende vermelho existente no subconsciente de todos nós, que nestas alturas nos segreda ao ouvido pérolas do tipo “Olhe que não, olhe que não.” e “O Povo unido, jamais será vencido!”. Este resquício dos tempos da Velha Senhora perdura na maioria de nós, impedindo-nos de analisar de uma forma racional toda e qualquer atitude que venha etiquetada com “Direitos dos Trabalhadores”.
Reconheço perfeitamente todos os chamados “Direitos dos Trabalhadores”, mas sendo um trabalhador do sector privado também estou bastante bem familiarizado com os “Deveres dos Trabalhadores”. E perante o facto de pagar mensalmente o dito passe, é impossível não me sentir incomodado (com “f”) quando demoro 2 horas para fazer um percurso de 20 minutos. Transportes alternativos? Sejamos realistas, se as alternativas disponibilizadas em tempo de greve fossem eficazes, a greve não surtia efeito absolutamente nenhum, deixando de fazer sentido… Greve? Concerteza, façam greve de zelo.
Agora com licença, tenho de ir espancar o meu duende vermelho, esse chibito revolucionário de merda.
agosto 07, 2006
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